domingo, 5 de fevereiro de 2012

Espaçamento adensado

Paulo Sadi Silochi
Diretor de Operações da Aperam Bioenergia

026-03


A demanda crescente de energia elétrica, ocasionada pelo desenvolvimento econômico do País, bem como a necessidade de uso de combustíveis limpos e sustentáveis intensificaram o interesse nas chamadas florestas energéticas. São assim identificadas por possibilitarem alta produção de biomassa em rotações curtas – 3 a 4 anos, contra os 7 anos tradicionais.

As florestas energéticas surgiram na década de 1980 em Minas Gerais. Com o fim dos incentivos fiscais e a crise do petróleo, diversas empresas, ligadas à siderurgia, optaram por trabalhar com espaçamentos adensados, para obterem uma produção de madeira precoce e um menor tempo para retorno do capital empregado no plantio de floresta.

A Acesita Energética, hoje Aperam Bioenergia, naquela época, realizou plantio de 5.000 hectares de florestas adensadas na região do Alto Jequitinhonha-MG. Obteve rendimentos médios, para florestas seminais, de 60 m³/ha/ano, aos 3 anos de idade.

A expectativa da produção foi atingida, mas restou a decepção pela qualidade do carvão vegetal conseguido com a madeira jovem. A densidade do biorredutor ficou abaixo de 180 kg/m³, inviabilizando seu uso em altos fornos. Esse modelo de plantio adensado, para a produção de matéria-prima para o aço, foi então abandonado, após o primeiro corte, ainda na década de 80.

Mais recentemente, em dezembro de 2002, foi implantado um teste de espaçamento de plantio, sob a coordenação do professor Laércio Couto, na região de Itamarandiba-MG, cujo objetivo foi analisar o efeito do espaçamento na produção de biomassa florestal.

O material genético utilizado foi o clone AEC-0601-híbrido de Eucalyptus camaldulensis x Eucalyptus grandis, de propriedade da Aperam Bioenergia.

Os resultados mostraram que, à medida que se aumenta o número de plantas/ha, pela redução do espaçamento, o volume de madeira/ha também aumenta. Porém, a partir de 47 meses, o ganho de produtividade nos plantios adensados é significativamente menor quando comparado com os espaçamentos mais abertos, confirmando a necessidade de se efetuar a colheita precocemente para manter a viabilidade econômica do programa.

Resultado semelhante foi conseguido em experimento feito pela ArcelorMittal BioFlorestas, na Região de Carbonita-MG. As características edafoclimáticas também são similares: bioma cerrado, altitude de 1.000 metros e precipitação média anual de 1.100 mm.

Esses resultados são bem conhecidos na literatura técnica, e o plantio em espaçamentos adensados é, sem dúvida, uma jazida a ser explorada. Os estudos ecofisiológicos de plantio adensado, especialmente para materiais genéticos de alta produtividade, ainda são poucos e precisam ser aprofundados.

Uma vez que já está demonstrado o resultado dos plantios adensados, em termos de produtividade, resta acertar a questão da sustentabilidade nutricional, pois a exportação de nutrientes em florestas de ciclo curto é mais acelerada. Essa barreira, no entanto, será facilmente ultrapassada, pois o Brasil detém tecnologia para tanto.

A produção de energia elétrica a partir do bagaço de cana-de-açúcar é uma realidade no Brasil. O uso de cavaco de madeira para manter a produção de energia elétrica na entressafra da cana é uma saída viável e se poderia dizer até confortável. A floresta energética, sem dúvida, será a fonte complementar a ser agregada.

Outra jazida em Minas Gerais, pronta para ser explorada, é a produção de energia elétrica através do aproveitamento dos gases gerados na carbonização da madeira de eucalipto. Com o aproveitamento da energia desses gases, é possível obter até 1.000 watts por tonelada de carvão produzido.

Uma planta, para produzir energia elétrica a partir da queima dos gases da carbonização, gera também melhoria nas emissões atmosféricas, além de fornecer energia térmica para secagem da madeira a ser carbonizada, aumentando o rendimento da relação madeira/carvão e diminuindo significativamente o custo de produção desse insumo.

A cogeração, nesse caso, aumentará a competitividade da siderurgia a carvão vegetal, reafirmando a capacidade de produção de aço verde, diferencial da competência técnica do setor no Brasil.

A utilização da biomassa na produção de energia elétrica e a adoção de florestas adensadas de ciclo curto, em breve, serão uma realidade que contribuirá para solidificar a liderança tecnológica do País no cultivo de árvores de eucalipto.

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