domingo, 5 de fevereiro de 2012

Artigo Publicado por membros da UFG e UEG, dentre os autores está a graduada em agronomia pela UEG Carolina Wisintainer

Supressão de plantas daninhas e produção de sementes de crotálaria, em função de métodos de semeadura

Paulo César TimossiI; Carolina WisintainerII; Bruce James dos SantosIII; Vinícius André PereiraIII; Vladimir Sperandio PortoIII

RESUMO

Espécies de adubos verdes podem suprimir significativamente a infestação de plantas daninhas, por apresentarem crescimento rápido, aumentando a competição interespecífica, principalmente por espaço. Objetivou-se, com esta pesquisa, avaliar métodos de semeadura de Crotalaria juncea L., cultivada na entressafra, sobre a supressão de plantas daninhas e produção de sementes. Adotou-se o delineamento experimental em blocos ao acaso, com quatro tratamentos (semeadura no espaçamento entre linhas de 0,50 m e 0,75 m e a lanço e área sem semeadura - pousio) e três repetições. Aos 50 dias após a semeadura (DAS), foi determinada a densidade e composição específica de plantas daninhas. Para a determinação de massa seca, foram feitas coletas, aos 100 DAS, de plantas daninhas e crotalária e, aos 200 DAS, apenas de plantas daninhas. Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância e as médias comparadas pelo teste Tukey, a 5%. Pôde-se concluir que a presença da crotalária suprimiu o desenvolvimento da comunidade de plantas daninhas, sem apresentar diferenças entre os tratamentos propostos. O mesmo aconteceu com a produtividade de sementes.


http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-40632011000400012&lng=pt&nrm=iso

A energia da floresta

Elesier Lima Gonçalves
Diretor Presidente da ArcelorMittal BioFlorestas

026-04

Um dos maiores desafios do nosso século é a geração de energia renovável e sustentável. É reduzir, ou até mesmo eliminar, a dependência do combustível fóssil. Está aí mais uma grande oportunidade para o setor florestal brasileiro.

O Brasil tem destaque no cenário mundial pelo excelente desempenho do setor florestal, resultante das especiais condições edafoclimáticas e pela tecnologia desenvolvida e aplicada. Termos 6.510.693 hectares de florestas plantadas renováveis, dos quais 4.754.000 ha de eucalipto.

O setor responde por 7,5% do PIB e gera 4,7 milhões de empregos. Produtos como madeira, celulose, papel, carvão vegetal, óleos essenciais e energia são gerados para atender às demandas da sociedade. Neste artigo, vamos focar energia.

O desenvolvimento está, historicamente, atrelado à geração de energia, e, aqui, mais uma vez, a floresta pode dar sua contribuição. Os combustíveis fósseis respondem por mais de 80% das fontes de energia mundial.

A demanda por energia é crescente, com destaque para os países em desenvolvimento, mas todo o mundo, hoje, volta os olhos para a energia renovável. Independentemente das regras de mercado, a demanda por energia solar, eólica, de biomassa, dentre outras, será intensificada.

Com essa perspectiva, o setor florestal se destaca com suas claras vantagens competitivas e apresenta papel fundamental na contribuição para a continuidade do desenvolvimento com preservação e sustentabilidade. Apesar de o Brasil apresentar uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com uso intenso da energia elétrica (hidráulica) e combustíveis renováveis (álcool/biodiesel), o potencial existente para crescer e, a um só tempo, promover redução de emissões de CO2, é expressivo.

Em 2008, segundo o Balanço Energético Nacional, 45% da energia ofertada foi renovável, enquanto a média mundial foi de 13%. Como algumas oportunidades para a indústria de base florestal, podemos citar: 1. Produção de biomassa – madeira para energia, resíduos florestais e pellets; 2. Produção de biocombustíveis; 3. Geração de energia, substituindo combustíveis fósseis; 4. Produção de bioquímicos.

Algumas tecnologias existentes já estão disponíveis em escala comercial; outras em desenvolvimento para estarem disponibilizadas ao mercado em futuro próximo. É percebido pela sociedade a favorabilidade de adoção de energia gerada de forma limpa. Custo/preço - questão de tempo/necessidade. Essa percepção é mais evidente nos EUA e na União Europeia, onde metas de mudança da matriz energética foram estabelecidas contemplando a energia renovável.

Ações diversas nos países estão sendo desenvolvidas na busca de substituição fóssil versus renovável; portanto, não importando a razão, se econômica ou ambiental, os estudos e as pesquisas evoluem para energia hidráulica, solar, eólica, biomassa, dentre outras. A geração de energia base biomassa é, de fato, uma alternativa que faz parte da solução; porém, ainda temos vários desafios a vencer, como:

1. Terras para expansão dos plantios das florestas renováveis;

2. Recursos financeiros a custos compatíveis com a atividade;

3. Desburocratização do setor;

4. Investimentos em P&D;

5. Logística;

6. Eficácia energética;

7. Reciclagem; e

8. Cogeração.


Na empresa ArcelorMittal BioFlorestas, por exemplo, dentro do nosso compromisso com a sustentabilidade, assegurando a preservação ambiental e a geração de benefícios à sociedade, estamos desenvolvendo projeto específico para cogeração de energia, utilizando os gases gerados no processo de produção de carvão vegetal, com uso de 100% de madeira de florestas plantadas renováveis de eucalipto.

Esse projeto é uma parceria com a Cemig, universidades e empresas especializadas. O carvão será utilizado pela ArcelorMittal – na unidade industrial de Juiz de Fora-MG, e os gases, coletados e queimados, passando por turbina especial que fornecerá potência para a geração de energia elétrica.

Serão utilizados, adicionalmente, para queima resíduos de biomassa florestal e finos de carvão. A iniciativa está alinhada às estratégias da ArcelorMittal BioFlorestas e da Cemig – utilização de combustíveis renováveis na geração de energia. Na área de produção de carvão vegetal em MG, estima-se uma capacidade de geração de 125 MW, somente com as seis principais empresas produtoras de carvão vegetal do estado.

Essa potência é equivalente à da Usina Termoelétrica de Igarapé (132 MW) ou à dos Parques Eólicos que a Cemig adquiriu no Ceará (99 MW). Essa tecnologia é inédita e demonstra que é possível gerar energia elétrica de forma limpa e sustentável. É a floresta, mais uma vez, contribuindo para o bem-estar da humanidade; como desde os primórdios da civilização.


Fonte: Revista Opiniões - http://www.revistaopinioes.com.br/cp/materia.php?id=783

Espaçamento adensado

Paulo Sadi Silochi
Diretor de Operações da Aperam Bioenergia

026-03


A demanda crescente de energia elétrica, ocasionada pelo desenvolvimento econômico do País, bem como a necessidade de uso de combustíveis limpos e sustentáveis intensificaram o interesse nas chamadas florestas energéticas. São assim identificadas por possibilitarem alta produção de biomassa em rotações curtas – 3 a 4 anos, contra os 7 anos tradicionais.

As florestas energéticas surgiram na década de 1980 em Minas Gerais. Com o fim dos incentivos fiscais e a crise do petróleo, diversas empresas, ligadas à siderurgia, optaram por trabalhar com espaçamentos adensados, para obterem uma produção de madeira precoce e um menor tempo para retorno do capital empregado no plantio de floresta.

A Acesita Energética, hoje Aperam Bioenergia, naquela época, realizou plantio de 5.000 hectares de florestas adensadas na região do Alto Jequitinhonha-MG. Obteve rendimentos médios, para florestas seminais, de 60 m³/ha/ano, aos 3 anos de idade.

A expectativa da produção foi atingida, mas restou a decepção pela qualidade do carvão vegetal conseguido com a madeira jovem. A densidade do biorredutor ficou abaixo de 180 kg/m³, inviabilizando seu uso em altos fornos. Esse modelo de plantio adensado, para a produção de matéria-prima para o aço, foi então abandonado, após o primeiro corte, ainda na década de 80.

Mais recentemente, em dezembro de 2002, foi implantado um teste de espaçamento de plantio, sob a coordenação do professor Laércio Couto, na região de Itamarandiba-MG, cujo objetivo foi analisar o efeito do espaçamento na produção de biomassa florestal.

O material genético utilizado foi o clone AEC-0601-híbrido de Eucalyptus camaldulensis x Eucalyptus grandis, de propriedade da Aperam Bioenergia.

Os resultados mostraram que, à medida que se aumenta o número de plantas/ha, pela redução do espaçamento, o volume de madeira/ha também aumenta. Porém, a partir de 47 meses, o ganho de produtividade nos plantios adensados é significativamente menor quando comparado com os espaçamentos mais abertos, confirmando a necessidade de se efetuar a colheita precocemente para manter a viabilidade econômica do programa.

Resultado semelhante foi conseguido em experimento feito pela ArcelorMittal BioFlorestas, na Região de Carbonita-MG. As características edafoclimáticas também são similares: bioma cerrado, altitude de 1.000 metros e precipitação média anual de 1.100 mm.

Esses resultados são bem conhecidos na literatura técnica, e o plantio em espaçamentos adensados é, sem dúvida, uma jazida a ser explorada. Os estudos ecofisiológicos de plantio adensado, especialmente para materiais genéticos de alta produtividade, ainda são poucos e precisam ser aprofundados.

Uma vez que já está demonstrado o resultado dos plantios adensados, em termos de produtividade, resta acertar a questão da sustentabilidade nutricional, pois a exportação de nutrientes em florestas de ciclo curto é mais acelerada. Essa barreira, no entanto, será facilmente ultrapassada, pois o Brasil detém tecnologia para tanto.

A produção de energia elétrica a partir do bagaço de cana-de-açúcar é uma realidade no Brasil. O uso de cavaco de madeira para manter a produção de energia elétrica na entressafra da cana é uma saída viável e se poderia dizer até confortável. A floresta energética, sem dúvida, será a fonte complementar a ser agregada.

Outra jazida em Minas Gerais, pronta para ser explorada, é a produção de energia elétrica através do aproveitamento dos gases gerados na carbonização da madeira de eucalipto. Com o aproveitamento da energia desses gases, é possível obter até 1.000 watts por tonelada de carvão produzido.

Uma planta, para produzir energia elétrica a partir da queima dos gases da carbonização, gera também melhoria nas emissões atmosféricas, além de fornecer energia térmica para secagem da madeira a ser carbonizada, aumentando o rendimento da relação madeira/carvão e diminuindo significativamente o custo de produção desse insumo.

A cogeração, nesse caso, aumentará a competitividade da siderurgia a carvão vegetal, reafirmando a capacidade de produção de aço verde, diferencial da competência técnica do setor no Brasil.

A utilização da biomassa na produção de energia elétrica e a adoção de florestas adensadas de ciclo curto, em breve, serão uma realidade que contribuirá para solidificar a liderança tecnológica do País no cultivo de árvores de eucalipto.

Reduzindo os entraves e ampliando a oferta

A energia assume um papel cada vez mais relevante na economia global. Pelo fato de atuar como um fator promotor ou restritivo do desenvolvimento, a disponibilidade de energia estabelece a relação de poder entre as nações. Porém, ao mesmo tempo que a segurança energética se apresenta como uma grande preocupação, os modelos de oferta de energia adotados pelos diversos países ainda representam um enorme desafio na direção de um desenvolvimento global sustentável.

As expectativas atuais indicam que a demanda mundial por energia deverá crescer fortemente nas próximas duas décadas, em grande parte impulsionada pelo crescimento das economias dos países emergentes. Isso significa dizer que todas as formas de energia são necessárias e que a oferta de todos os tipos de energia deverá crescer: renováveis, hidráulica, solar, eólica, fóssil e outras.

Nesse contexto, a participação das fontes renováveis no mix de oferta de energia também terá de crescer, com o apoio decisivo dos instrumentos de política econômica e da pesquisa e inovação tecnológica.

Em um cenário em que a participação das energias renováveis na matriz energética global seja cada vez mais significativa, o futuro da madeira é muito promissor. Afinal de contas, as formas convencionais de energia ainda são inacessíveis para a grande maioria da população mundial e, em muitos países, a madeira ainda é o principal energético. Aliás, é sempre bom lembrar que a madeira é o combustível mais antigo da humanidade.

Ainda hoje, a energia da madeira é responsável por cerca de 7% do total da energia consumida no mundo. Grande parte desse consumo, na forma de lenha e carvão vegetal, destina-se à cocção de alimentos e, portanto, se apresenta como um ingrediente-chave para a segurança alimentar em várias nações.

Contudo, a efetiva contribuição da madeira para a geração de energia é negligenciada mesmo por aqueles que atuam no segmento florestal. Apesar de mais de 55% da produção florestal mundial ser utilizada para o suprimento de energia, as florestas ainda não são devidamente manejadas e aproveitadas com efetividade para esse fim.

Ao contrário, a maior parte dos quase 2 bilhões de metros cúbicos de madeira destinados ao uso energético não têm origem sustentável. São processados de maneira inadequada – com baixa agregação tecnológica e de valor – e convertidos em energia de forma pouco eficiente. Considerando o crescimento populacional e a tendência de aumento da demanda de madeira e seus derivados para energia, torna-se imperativo o aumento da capacidade de oferta de produtos florestais.

Assim, a bioenergia florestal apresenta-se como uma típica oportunidade “ganha-ganha”, pois contribui para a segurança energética, a mitigação das emissões, o estabelecimento de uma economia verde e, fundamentalmente, para a valorização das florestas, aumentando a sua competitividade, e para a ampliação do manejo florestal sustentável em escala mundial para todos os tipos de florestas.

Apesar das crises econômicas e das turbulências dos mercados financeiros, o mundo continua a crescer. O Brasil, com sua economia em boas condições, uma reconhecida aptidão para a produção primária e 60% do seu território cobertos com florestas, deve ampliar vigorosamente os investimentos no setor florestal a fim de se apresentar para o mundo como o maior produtor de bioenergia florestal.

Para tanto, será necessário reduzir os entraves ao manejo florestal – empresarial, comunitário e familiar –, ampliar a oferta de florestas naturais para a produção sustentável e a área de florestas plantadas e agregar tecnologia aos processos produtivos florestais. Além disso, deve-se ajustar o marco legal e institucional federal e prover os incentivos políticos e econômicos necessários para o País alcançar a liderança no mercado global de energia da madeira.

Especificamente, destacam-se os esforços do Governo Federal para disponibilizar milhões de hectares de florestas naturais na Amazônia para a produção sustentável de bens e serviços florestais, por meio da concessão de florestas públicas federais.

Essa política pública inovadora, ainda que recente, tem demonstrado ser muito promissora para o estabelecimento de uma economia de escala de base florestal que privilegie produtos de maior valor agregado, maximizando o aproveitamento do recurso e dos subprodutos ao longo da cadeia produtiva.

Assim, espera-se que essas florestas também sejam parte significativa da solução para a questão energética desse século.


Fonte: Revista Opiniões - http://www.revistaopinioes.com.br/cp/materia.php?id=781

O que estamos fazendo e o que precisamos passsar a fazer

Manoel Vicente Fernandes Bertone
Secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura

026-01

Justamente no momento em que me dedico a este artigo, a agricultura brasileira vive a situação de ver se aproximar a conclusão da votação do nosso Código Florestal e a constatação de que, no último trimestre, enquanto o Brasil cresceu zero em relação ao trimestre anterior, a agricultura cresceu 3,2% na mesma base de comparação. Ou seja, não fosse a agricultura, teríamos mostrado ao mundo uma situação muito pouco confortável em termos econômicos.

Não é de hoje que a agricultura tem salvado a pátria, embora só agora estejamos conseguindo chegar próximos da segurança jurídica em termos ambientais, indispensável para que esse dinâmico setor possa se desenvolver e alavancar maiores investimentos. Com a vida dedicada a agronegócio, sempre fui defensor da produção sustentável, considerados os aspectos sociais, ambientais e econômicos.

E sempre reconheci a necessidade da presença do Estado na formulação de políticas públicas indutoras para que a iniciativa privada trilhe esse caminho da sustentabilidade, que elevaria o conceito da atividade junto à sociedade brasileira e internacional.

Costumo denominar essa necessidade de sustentabilidade política, pois o Estado democrático de direito exige a prática da boa política. Tendo em vista essa situação de momento, particularmente interessante, e o conceito de fundo que enaltece o equilíbrio sustentável almejado para qualquer setor, anoto um dado preocupante que poucos ainda conhecem.

Na última reunião do CNPE - Conselho Nacional de Política Energética, fomos alertados para que, pela primeira vez, estaríamos retrocedendo no nível de utilização de energias renováveis em nossa matriz energética, que provavelmente passará dos hoje conhecidos 47%, para perto de 44%, em parte devido à redução da participação do etanol nessa matriz e ao crescimento da demanda por energia que passou a ser suprida por outras fontes.

É interessante constatarmos que, assim como as florestas não são atribuição do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, também a cana produzida pelas usinas não são financiadas pelas mesmas linhas de crédito disponíveis para os produtores independentes dessa matéria-prima.

Que relação têm esses vários assuntos? Em minha opinião, a falta de foco na definição de prioridades. O potencial brasileiro na formação de florestas energéticas não tem sido aproveitado a contento.

Temos nos esbarrado em questões ambientais, na segurança jurídica quanto à autorização para colheita, na falta de financiamentos adequados, na insegurança quanto à origem dos investimentos, se estrangeiros ou não, assim como na insegurança ambiental que, esperamos, esteja sendo finalmente resolvida.

Ainda como a cana, o que estamos fazendo para induzirmos a um melhor aproveitamento energético dos subprodutos da madeira utilizada na produção de papel e celulose, ou até das serrarias? Estão essas unidades aptas a transformar eficientemente em energia elétrica e disponibilizá-las na rede? Certamente não, assim como não há qualquer incentivo para que usinas de açúcar e etanol busquem eficiência energética através de caldeiras mais adequadas para disponibilizar energia do bagaço da cana.

Ao contrário, estamos assistindo passivamente à queda da participação das energias renováveis em nossa matriz energética.

Desenvolvimento e preservação ambiental podem e devem andar juntos. Agricultura e meio ambiente protegido são dois lados de uma mesma moeda, já que é o agricultor aquele que mais depende desse meio ambiente que pretendemos preservar – e ao mesmo tempo explorar com sustentabilidade – e que mais próximo dele está.

O Brasil e o mundo dependem de novas florestas, as florestas plantadas. O Brasil e o mundo dependem a cada dia de mais energia, e parte dela pode advir de forma absolutamente sustentável de florestas energéticas.

Também é notório que, além de dependermos de fontes adicionais de energia, nosso desenvolvimento econômico tem dependido cada vez mais da agricultura, setor que tem podido se desenvolver sem grande utilização de mão de obra, já escassa, e, diante da falta de competitividade brasileira, considerados os incrementos de nossos custos de produção e de nossa taxa de câmbio.

Assim, é estratégico priorizarmos as fontes de agroenergia dentro de um agronegócio que se mostra cada dia mais necessário para o abastecimento mundial.


Fonte: Revista Opniões - http://www.revistaopinioes.com.br/cp/materia.php?id=780

A energia pode ser renovável, mas o modelo é sustentável?

Celso Edmundo Bochetti Foelkel
Consultor, escritor e Presidente da Grau Celsius

026-00

Nas últimas décadas, o setor florestal brasileiro conseguiu desenvolver com o eucalipto, através de muita ciência e tecnologia, modelos de silvicultura de excelentes produtividades e com adequadas qualidades econômica, ambiental e social.

Mesmo para as plantações de relativa curta rotação (entre seis e oito anos) e manejadas por talhadia com corte raso, as florestas têm apresentado excelentes performances nos principais indicadores de sustentabilidade. Isso é atestado pelas inúmeras certificações de bom manejo florestal e de cadeia de custódia.

Em atividades de plantações de florestas, as ações mais drásticas ocorrem nas operações de plantio e de colheita florestal. As coisas acontecem dessa forma porque as atividades operacionais podem desestruturar e/ou compactar o solo, desnudar a superfície da terra, favorecer a oxidação da matéria orgânica, aumentar a erosão pelas gotas de chuva ou pelas enxurradas, impactar a microvida do solo e a sua biologia, etc.

Enfim, há impactos sobre a física, a química, a biologia e sobre a água do solo. Portanto, a sustentabilidade do ecossistema florestal é mais facilmente alcançada pelo prolongamento da rotação da floresta plantada. Com isso, ficam favorecidas as condições para que os ciclos hidrológicos e biogeoquímicos ocorram de forma mais balanceada e com poucos distúrbios.

As maravilhosas mágicas naturais, tais como a ciclagem de nutrientes no ecossistema, a estocagem de carbono orgânico na floresta e no solo, o desenvolvimento da biologia do solo, a saúde da flora e da fauna, a estocagem de água e a hidrologia balanceada nos ecossistemas, serão otimizadas. Isso garantirá maior tranquilidade e certeza de que as futuras gerações de florestas ou os outros usos desses solos não serão prejudicados.

Recentemente, um novo modelo de silvicultura vem sendo debatido. Esse modelo encanta alguns investidores, principalmente aqueles que estão mais preocupados com retorno rápido de suas aplicações e não se preocupam com o longo prazo para os ambientes florestais. Esse modelo altera drasticamente tanto a população de árvores por hectare (aumentando) como o tempo de rotação da floresta (diminuindo).


Essa nova onda de produção massiva de biomassa florestal vem sendo até mesmo incentivada e apoiada ingenuamente pelos governos de inúmeros países, os quais buscam (a qualquer custo) substitutos aos combustíveis fósseis. Há muita gente grande acreditando nisso, até mesmo imaginando que estará fazendo um enorme bem para o planeta Terra.

Entretanto, nem toda biomassa que tem a cor verde da fotossíntese possui necessariamente adequados níveis de sustentabilidade. As pesquisas sobre sustentabilidade de plantações florestais adensadas são praticamente inexistentes.

Sem um adequado manejo e proteção dos ecossistemas, poderemos estar usando recursos naturais de forma muito agressiva e prejudicando a imagem de sustentabilidade duramente conquistada pelo setor de florestas plantadas até os dias presentes.

Tampouco o retorno financeiro desse modelo adensado pode ser comprovado como melhor do que o obtido pelos sistemas mais tradicionais.

As plantações adensadas têm como meta a máxima produção de matéria orgânica por hectare, e isso em curtos intervalos de tempo. Os milhares de árvores por hectare consomem muito do solo e colocam uma barreira para as chuvas chegarem ao chão, dentre outros tantos fatores que alteram no ecossistema.

O objetivo é a máxima produção de biomassa no menor espaço de tempo possível. Casca, madeira, ramos, folhas, até mesmo a manta orgânica que cobre o solo estão na mira das máquinas que vão rapinar isso tudo para gerar energia.

Até mesmo as raízes passaram a ser cobiçadas em alguns casos. Imaginem a desgraça que isso pode representar, com toda a biomassa rica em nutrientes e carbono orgânico sendo simplesmente levada para fora do ecossistema. Quais os impactos biológicos, químicos ou físicos que poderemos ter no médio e longo prazo sobre a ciclagem de nutrientes e sobre a riqueza dos solos? E sobre o regime hidrológico, outra questão angustiante a ser respondida?

Um manejo de baixa qualidade ambiental seria um desastre para a eucaliptocultura brasileira, pois seus reflexos podem se propagar por todas as cadeias produtivas que se valem da madeira das florestas plantadas desse gênero de árvores. Não podemos sair trocando carbono fóssil por usos inadequados de solo, biodiversidade e água.

O lado ecológico da conta da biomassa energética não pode ser pago pelos nossos solos, nem pela água de nossos recursos hídricos, nem pela biodiversidade de nossos ecossistemas.

Fonte: http://www.revistaopinioes.com.br/cp/materia.php?id=779